Não me perguntem coisas daquelas que eu não creia
Não me perguntem coisas daquelas que não sei
Remeto para os senhores as decisões do mundo
Tais como governar, fazer decretos lei
No meio da tempestade no meio das sapiências
Se poeta nasci, poeta morrerei
Nem homem de gravata nem homem de ciências
Apenas de mim próprio, e pouco, serei rei
Das decisões do mundo lerei o que entender
Que dentro de mim mesmo às vezes nasce um rio
E é esse desafio que nunca hei-de esquecer
E é essa a diferença que faz o meu feitio
Mas digam por favor de onde nasce o sol
Que eu basta-me o calor - para lá me voltarei
E saibam já agora que se eu lavrar a terra
Me bastará que chova que o resto eu o farei
E digam por favor se o céu inda nos cobre
E bastará o azul que em ave me tornei
Mantenham com cuidado as árvores e estradas
Pr´a gente poder ver, p´ra gente circular
Que eu basta-me saúde e o sonho tão distante
E a boca perturbante que tu me sabes dar
E a festa de viver e o gozo e a paisagem
Desta curva do Tejo, soprando a brisa leve
E na tranquilidade assim desta viagem
Parar-se o tempo aqui, eterno, fresco e breve
Que eu voo por toda a parte mas noutro horizonte
E vivo as coisas simples e rio-me da ambição
E ao fim de tanto ver, escolherei um monte
De onde assistirei, sorrindo, ao vosso enfarte
Da ânsia de possuir, da ânsia de mostrar
Da ânsia da importância, da ânsia de mandar
Mas digam por favor de onde nasce o sol
Que eu basta-me o calor - para lá me voltarei
E saibam já agora que se eu lavrar a terra
Me bastará que chova que o resto eu o farei
E digam por favor se o céu inda nos cobre
E bastará o azul que em ave me tornei