Da madrugada de segunda ao rush, do centro à periferia
A avenida que polui a paz e o verde do parque aqui tudo pode tornar-se poesia
O "R” interiorano no protesto do rap, o play boy e sua noitada tão vazia
A pompa de um executivo ou o chapéu de um boêmio Aqui tudo pode tornar-se poesia
Eu sou capaz, capaz, capaz de ser feliz na av. paulista
Eu sinto a paz, a paz, quando desço a "treze” a pé até a Bela Vista
Eu desço a serra da Anchieta e Imigrantes num dia de sol
Eu tenho o dom, o dom de ver o mundo inteiro ao meu redor
O modismo que invade as estações do rádio, saturando e gerando epidemia
O quase anonimato de tanta gente fértil aqui tudo pode tornar-se poesia
A guitarra sem sentido de um rebelde sem causa, o problemático que faz a terapia
O sorriso feliz de um proletário apressado, Aqui tudo pode tornar-se poesia
Eu não me cego, cego, cego, cego, cego pela nuvem cinzenta
Eu não gosto do idiota que reclama ma produz o caos
É belo, é belo o Pacaembu num dia de clássico de futebol
Me inspira o desenho dos arranha-céus ao pôr-do-sol (INTRODUÇÃO)
A etiqueta que o pobre naturalmente ignora e acomanha o rico no dia a dia
A tentativa quase sempre infeliz da classe média Aqui tudo pode tornar-se poesia
Aqui tudo pode tornar-se poesia
A gargalhada de um bacana na mesa de um bordel acompanhado de simpática vadia
A felicidade no sorriso de um banguela Aqui tudo pode tornar-se poesia
Sou paulistano, e declaro que existo sim
A mistura é minha mais pura raça e essa terra é que me dá identidade
Talvez eu seja um vira latas e a miscigenação minha matéria prima
Mas não faço "street” nada, minha arte é produto da rua
E nem faço nada "music”, nossa língua é nossa cultura
Conversa mole à mesa de botequim de faculdade, o leigo chato que fala de astrologia
E nem eu que nem sei o que sentir com isso tudo me privo de produzir poesia