Minha cabeça trovoa
sob meu peito te trovo
destino canções pros teus olhos vermelhos
flores vermelhas, vênus, bônus
ou menos
(mais ou menos)
reverencio a tua beleza
física também
mas não só
não só
graças a Deus você existe
acho que eu teria um troço
se você dissesse que não tem negócio
te ergo com as mãos
meus olhos fechados te acossam
fora de órbita
descabelada
diva
súbita…
súbita…
seja meiga, seja objetiva
seja faca na manteiga
pressinto como você chega
ligeira
metralhando na quinquilharia
que carrego comigo
toda a dureza incrível do meu coração
feita em pedaços…
minha cabeça trovoa
sob teu peito eu encontro
no portão da tua casa no bairro
famílias assistem tevê
eu fumo um marlboro na rua como todo mundo e como você
eu sei
eu acho que sei…
eu acho que sei…
vou sossegado e assobio
e é porque eu confio
mesmo que ele venha num tapa
e caminho a pé pelas ruas da Lapa
a fuligem me ofusca
a friagem me cutuca
o aço fino da navalha me faz a barba
o aço frio do metrô
o halo fino da tua presença
sozinha na padoca em Santa Cecília
no meio da tarde
soluça, quer dizer, relembra
batucando com as unhas coloridas
na borda de um copo de cerveja
resmunga quando vê
que ganha chicletes de troco
lebrando que um dia eu falei
“sabe, você tá tão chique
fica comigo
se você for embora eu vou virar mendigo
eu não sirvo pra nada
não vou ser teu amigo
fique
fica comigo…"
minha cabeça trovoa
sob teu manto me entrego
entender o teu desejo
me atirar pros teus peitos
espessa nuvem de incenso de perfume intenso
e o simples ato de cheirar-te
me leva a Marte
a qualquer parte
a parte que ativa a química
química…
ignora a mímica
e a educação física
só se abastece de mágica
explode uma garrafa térmica
por sobre as mesas de fórmica
de um salão de cerâmica
deslocamento atômico
para um instante único
em que o poema mais lírico
se mostre a coisa mais lógica
e se abraçar com força descomunal
até que os braços queiram arrebentar
toda a defesa que hoje possa existir
e por acaso queira nos afastar
esse momento tão pequeno e gentil
e a beleza que ele pode abrigar
querida nunca mais se deixe esquecer
onde nasce e mora todo o amor