Talvez se eu fosse menos louca
Se eu não fosse quem soca
desesperadamente sem parar
um travesseiro branco
Se eu seguisse em frente
Se eu não fosse propícia
a visualizar gente rolando do barranco
Quem sabe
você não chamasse a polícia
Talvez
Se eu não tivesse um troço
Lá dentro da barriga
Que eu sinto que está dançando a dança da garrafa
E que nunca se cansa, e que é uma girafa
Se esse bicho imundo não subisse até o pescoço
Quem sabe eu não estivesse
Num fundo do poço, talvez
Se o mundo desfocasse
E só se visse a gente
E todas as pessoas que sobrassem fossem meros figurantes
Se a vida decidisse mudar de roteirista
E o gênero trocasse de repente num instante
Quem sabe
a gente podia ser protagonista talvez