Letra de
Mourão

Trago a chave do silêncio
Para abrir a cantoria
Trago a viola que tece
Meu canto que se despia
Dê licença minha gente
Pra abrir o meu repente
Sobre as janelas do dia
Sou assim desde menino
Conheço suor e pranto
Conheço dentro da pedra
Eu lavo, preparo "e o fulano"
O lar pra dona que espera
Vai chegando a primavera
Nas entocas do seu canto
O sertão é pedra, é seixo
É sol é verão é guerra
É o lavrador que cavando
Na própria cova se enterra
É a luta na roça alheia
É a força que vem e semeia
Seus sete palmos de terra
O sertão é planta, é bicho
É o céu que nunca chora
É o retirante que deixa
Seu destino e vai embora
São os breves intervalos
Nos desafios dos galos
Cantando o coro da aurora
Quem quiser cantar repente
Traga sua violinha
Se tiver desafinada
Pode afinar pela minha
Mas traga a mão preparada
Porque viola afinada
Não sabe tocar sozinha
Quem inventou a viola
Foi carpina de primeira
Mediu com a fina dos braços
O corpo da companheira
E talhou lavrando as rimas
Suas formas femininas
No coração da madeira
Se a gente chora, mas canta
A viola é como a gente
Porém se a viola chora
O seu canto é diferente
Se essa chuva das violas
Como eu fecho as quase molas
No guarda-sol do repente