Letra de
Fogaças

Deitam-se as bênçãos é o fim da procissão
Apressa o passo o povo para o pavilhão
Pratos, talheres e os copos sobre a mesa
E o mercado já só tem uma luz acesa
A Laborins falta um vinho do Dão
E a chouriça do Zé assou sem pão
Tem de ir assim já não há tempo
E eu só tento encontrar um canto
Para estar só e são
Broa, morcela e o licor
Tudo temperado com amor
Uma chanfana e a garrafa de água-pé
Pois, assim é
Tudo a dar mais e eu aqui
Sem nada para dar
Na ala à esquerda ata-se o último laço
O Luís Maurício inaugura o bagaço
Sentam-se frades, os fregueses e as elites
Fogem os putos, as pequenas e os petites
O pregoeiro chama a atenção
E quem dá mais, heis a questão
E eu que não queria estou desperto
Incerto a perguntar onde é que para este
Leilão
O Tó e a Céu já se estão a picar
E já se ergue outra mão no ar
De cinco em cinco como faziam seus pais
Tudo a dar mais e eu aqui
Sem nada para dar
Dois e meio, três e o cabaz está entregue
Ao emigrante retornado ao seu albergue
Homens, mulheres tiram os copos sobre a
Mesa
Fazem a festa à grande e à Portuguesa
E até o avô Julião
Se transformou num folião
E à luz da lua eu percebo que a fogaça
Principal é a que se compra em
Comunhão
Meu corpo cede ao festival
E quer se dance bem ou mal
O comboio para em todo o terminal
Tudo a dar mais será que aqui
Terei algo para dar
Vendido!