Desatinei
Fui pra terra do meu pai
Já me chega de Lisboa
Quando aterrei
E que estava toda boa
Cabeleireiro é coisa de paneleiro
E de futilidades
Levei porrada
Com a pá e com a enxada
Já deu pra matar saudades
À beira rio, perguntou-me o meu tio
O que lá aconteceu
Na capital onde só existe mal
No jornal diz que leu
Uma velhinha assaltada coitadinha
Por um estudante
Disse-lhe tio
Para aprenderes a ser doutor
Tens de ser ignorante
Sou o gay da minha aldeia
E o gay eu hei-de ser
Levo porrada de dia
Dos mesmos gajos que à noite
Vêm-me à porta bater
Rosa Maria diz que passava o dia
À minha espera na Sé
Quando me viu pobre moça empederniu
"Este moço não é o meu Zé"
Desconfiada acompanhou-me até casa
Foi dizendo à minha mãe
Ó tia Cila mandaste-o para lá com pila
E ele veio de lá sem
Vivi na terra do fado
Retornei cá para o Pilado
A minha aldeia natal
Os meus amigos não queriam brincar comigo
Por ser homo… sexual
De dia mandavam bocas
Coisas parvas, coisas loucas
Sabem lá o que isso é
À noite davam-me rosas
Ai agora já não gozas
Queres colinho aqui do Zé