Já desaguachei a moura / Afiei bem as tesouras
To pronto pro que vier / Ferro com as folha benzida
e os braços pra ganhá a vida / No cabo desses talher
Vou me enturmar na comparsa / Que vai lá pra Paz das Garças
Tosar miles de capão / Corriedale sem escolha
De mete de toda folha / Acolherando as duas mãos
Sendo pra lotá ficheira / Me tapo de lã e cera
Pouco me importa o calor / Se resolvo soltá o braço
Quase mato no cansaço / Quem se mete a agarrador
É dois pulsos no martelo / Tchaque-tchaque e atiro o velo
Por cima do atador / Ferro e folha e não tem nada
Vai embora guacha pelada / Berrando pra o tosador
Grudo a marca santaninha / Solto lisa e rosadinha
Porque o braço não se micha! / e n'alguma escapada
Boto cortiça queimada / Garanto que não abicha!
Se me topo com as merina / Apelo pra cangibrina
Arrolhadita atrás da porta / e no couro murcilhado
Sigo de ferro embuchado / Nas rugas campeando as volta
a pobreza é igual capacho / e só biqueando por baixo
Que um pobre cristão se safa / Quando largo da tesoura
Nas patas da minha moura / Prossigo espichando a safra!