Andava de feira em feira, lendo a sina a toda a gente
Ciganita feiticeira, linda como o sol poente
De Moura a Vila Viçosa, de Estremoz a Montemor
Jornada longa e penosa, que ela sabia de cor.
Os seus olhitos errantes, magoados, sonhadores
Eram o sol dos feirantes, estrela dos lavradores
Em todos tinha um amigo, como se houvesse fartura
De colheita e de ventura, nos seus olhos cor do trigo.
E a Ciganita, das sombras humilde escrava
Prometia a toda a gente, riqueza e felicidade
Tão expedita nas orações se mostrava
Que o povo ficava crente, como se fosse verdade
No entanto, na sua lida, do mistério desvendar
A sina da própria vida, nunca soube adivinhar
Um dia, no seu labor, surgiu figura imponente
Um moço da sua cor, mas de raça diferente.
Palavras que nunca ouvira, ela ouviu, ela escutou
Fossem verdade ou mentira, a jovem acreditou
Novo rumo, nova cruz, alcançaria por ele
E lá seguiu atrás dele, como a sombra atrás da luz.
Escorraçada, logo se viu, p seu povo
O culpado foi-se embora, desgraçando a Ciganita
Desamparada, ás feiras voltou de novo
A ler sinas como outrora, mas já ninguém acredita