Carrego o peito de fumaça
A cabeça de cachaça
Assim talvez eu satisfaça meu penar
Que me assola em pensamentos turbulentos
A todo e qualquer momento
Sem me deixar relaxar
Mas não há nó que se desfaça
Se não vê o que rechaça
O seu ar, a sua graça, o seu cantar
O que me consola é um sentimento lá dentro
Por um ligeiro encantamento
Que permite despertar
Mesmo desperto continuo vago
Sem saber pra que lado concentrar minha atenção
Acho que não tem mais jeito
A não ser tirar do peito, a força, a minha negação
E até quando
Manter esse semblante
De reles farsante crente que vai funcionar
Se me entorpeço é porque acho que mereço
E quase viro do avesso só pra não ter que encarar
Mas encarando
Sei que segue adiante
Um desejo flutuante de se reinventar
Não me pareço com o que penso que sou
Mas reconheço
Tem muito mais do que acredita ser capaz
Cada ser em decadência, buscando coerência em existir
Tem muito mais, do que cabe para nós
Além de paz na consciência, anseio na divina providência
O peito de fumaça
A cabeça de cachaça
Talvez satisfaça meu penar
Mas não, não há nó que se desfaça
Se não vê o que rechaça
O seu ar, a sua graça, o seu cantar