Letra de
Capoeira do Arnaldo

Quando eu vim da minha terra / Passei na enchente nadando
Passei frio, passei fome / Passei dez dias chorando
Por saber que de tua vida / Pra sempre estava passando
Nos passo desse calvário / Tinha ninguém me ajudando
Tava como um passarinho / Perdido fora do bando
Vamo-nos embora, ê ê
Vamo-nos embora, camará
Quando eu vim da minha terra / Veja o que eu deixei pra trás
Cinco noivas sem marido / Sete crianças sem pai
Doze santos sem milagre / Quinze suspiros sem ai
Trinta marido contente / Me perguntando "já vai?"
E o padre dizendo às beata / "Milagre custa, mas sai"
Vamo-nos embora, ê ê ( )
Quando eu vim da minha terra / Num sabia o que é sobrosso
Sabença de burro velho / Coragem de tigre moço
Oração de fechar corpo / Pendurada no pescoço
Rifle do papo-amarelo / Peixeira de cabo de osso
Medalha de Padre Ciço / E rosário de caroço
Pra me alisar pêlo fino / E arrepiar pêlo grosso
Que eu saí da minha terra / Sem cisma
Susto ou sobrosso
Vamo-nos embora, ê ê ( )
Quando eu vim da minha terra / Vim fazendo tropelia
Nos lugar onde eu passava / Estrada ficava vazia
Quem vinha vindo, voltava / Quem ia indo, não ia
Quem tinha negócio urgente / Deixava pro outro dia
Padre largava da missa / Onça largava da cria
E os pai de moça donzela / Mudava de freguesia
Mas tinha que fazer força / Porque as moça num queria
Vamo-nos embora, ê ê ( )
Eu sai da minha terra / Por ter sina viageira
Cum dois meses de viagem / Eu vivi uma vida inteira
Sai bravo, cheguei manso / Macho da mesma maneira
Estrada foi boa mestra / Me deu lição verdadeira
Coragem num tá no grito / E nem riqueza na algibeira
E os pecado de domingo / Quem paga é segunda-feira
Vamo-nos embora, ê ê ( )