Conheço Rosinha Palatnik
Por um único retrato de louça
Que vive no cemitério
Entre os túmulos judeus
Morreu em 36 aos vinte anos de idade
E há sobre a lápide
Letras em hebraico que não decifro
Talvez suicídio, ou outra sorte
De qual morte morreu essa moça judia que não morre?
De qual vida ela vive naquele retrato
De louça que mais parece feita de carne
E por que vem assim
Semear-me no meio da tarde?
O que te devo, mulher, o que tu queres?
Viveste na minha cidade
E queres ainda viver por mim, por meus olhos
Por minha carne de homem
Boca lábios ouvidos
E queres ser uma música
Te vejo em muitos lugares
Sempre dentro do retrato
Presa e viva, branca e morta
Que queres, mulher
Tanto tempo depois do tempo
Em que houve calor para ti no mundo?
Que queres na tua janela de vidro
Com o teu corpo de cinzas?
Não me faças desejar-te assim
Tu que não tens mais carne
Para o meu desejo
Nem seda de vestido
Corpo nem seios
Só o retrato frio na lápide
Que amor terrível é esse que me trazes?
Que amor terrível é esse que me trazes?