Letra de
Cabelo Pixaim

Ouviu um barulho surdo e pensou que era o fim Sentiu cheiro de queimado no cabelo pixaim
Por um instante sua vida lhe passou como um raio Divagou se acabou, se ele viveu o necessário
Pensou na sua família e na mágoa que ficou Nos pedidos de desculpas que pensou e não falou
E pensou na sua preta, nos momentos de alegria Sentiu um beijo repousando na sua face: a despedida
Lembrou dos olhos de sol, que iluminava sua vida Lembrou do sorriso solto que ele nunca mais veria
A realidade agora deu lugar a um pesadelo E a luta pela vida deu lugar ao desespero
Mas por que logo ele, sempre foi trabalhador Não é culpado da miséria, situação do atirador
Engajado e envolvido em projetos sociais Mesmo assim não foi poupado pela mão dos marginais
Tudo preto, o rancor se mistura com o medo Guerra é guerra, e sempre traz dor constante e sofrimento
Sentiu raiva mais passou, e pensou q era sua hora Mas seu filho o esperava no portão de uma escola
Dos jornais sensacionalistas já virou notícia Pro governo virou número aumentou a estatística
(refrão 2x)
O que se fazer? Famílias destruídas são notícias da TV.
Chega de Sofrer, O abismo social mata eu mata você.
O que se fazer? Famílias destruídas são notícias da TV.
Chega de Sofrer, O abismo social mata eu mata você.
(intro)
Carro sem roda, pião e uma pipa rasgada No seu barraco era esse o lazer da criançada
Muitas vezes já jurou que ele não roubaria Mas a falta de feijão orquestrava o choro da filha
Era um bom coração mas tinha vários pecados Alguns furtos, coisa boba só pra adiantar um lado
Mas cansou de coisa pouca, foi na idéia de um irmão: “É só uma, duas horas e já é dinheiro na mão
É só por o cano na cara, pra não esboçar reação Depois só para no banco, faz o saque com cartão
Um já fica com o refém na campana, sem da guela, Depois só larga o patrício em algum beco da favela"
Chegou à hora e o gelado do aço na barriga O nervosismo se instala, e se despede da filha
Reza um pai nosso em silêncio, clama a Nossa Senhora Não deseja que uma bala seja o fim da sua história
(refrão)
No farol, carro parado, assalto anunciado O motorista tentou a fuga, um tiro foi disparado
Atingiu o black power de um rapaz indefeso Tremedeira nas mãos, na consciência um peso
Saiu correndo assutado, um bicho encurralado Ele estava de costas quando ouviu os disparos
E caiu sem olhar pra trás já sem movimento Só ouvia as sirenes e o barulho do vento
O coração apertado, remói arrependimento Já de olhos fechados, ele sofre em silêncio
Pediu perdão, um devoto de Nossa Senhora Largado no chão, é chegada sua hora
(final)