Vou nascer quando se puser o tempo a me esquecer
Quando o deserto sorve as nascentes no chão
Quando se fundarem certas razões de não ser
Vou nascer semelhante a um corpo sem cabeça ou pés
Quando desonrosos homens fizerem questão
De me verem sorridente queimar seus papéis
Mesmo que só você me ensine a nascer
Só venho à vida depois da canção
Vou nascer no calor da Galiléia ou Jerusalém
Na lacuna dos teus ossos que doem por mim
Com os filhos da miséria que choram também
E Mesmo que você me ensine a nascer
Só venho à vida depois que a vida me querer.
Vou nascer, sem temer, sem chorar, e não me importa
Se alguém não quiser me receber
Vou nascer e abrir logo essa porta
E chegar e partir, como há de ser.