E as cortinas se fecham, são as portas do ônibus
Deixo pra trás as pedras das ruas
Percorrendo tantos caminhos
Ainda vejo a imagem sua
E as cortinas se abrem, são as portas da igreja
Que há tanto não visito
E que, com os olhos de cerveja
Me parece mais um mito
Se você soubesse que atrás dessas cortinas
Há um coração embriagado
E uma dor que desatina
Sempre que eu não estou ao seu lado
Talvez não me rasgasse tanto a carne
Que cerca a minha sofrida alma
Sem permitir que eu me arme
Contra essa brasa que me acalma
Mas eu gosto dessa chama
Que tem gosto de cachaça
Tão docemente você me chama
Mas meus ouvidos estilhaça
Com sua voz, som brutal
E nos cerca essa dor habitual
E essa imagem horrenda, tão atroz
Gosto do som da sua voz
Eu queria poder voltar
Mas esse doce castigo me cai tão bem
E o licor me faz lembrar
Do que sente você também
E as cortinas lentamente se abrem
São as portas de um bar
E eu entro, para o meu azar
E as cortinas lentamente se fecham
São as pálpebras que estão a chorar
As pálpebras que estão cansadas de
Amar, tragar, odiar e tanto amar
Amar, tragar, odiar e tanto amar