Cem anos qu viva não posso esquecer-me
Daquele navio qu vi naufragar
Na boca da barra tentando perder-me,
E aquela janela virada pró mar.
Sei lá quantas vezes matei o desejo
E fui pelo mar fora, com a alma a sangrar;
Levando na ideia os lábios que invejo
E aquela janela virada pró mar.
Marinheiro do mar alto olha as ondas, uma a uma
Preparando-te um assalto entre montes de alva espuma
Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada pró mar
Se mais ainda houvesse, mais portos correra
Lembrando-me em noites de meigo luar
Naquela janela virada pró mar
Mas quis o destino que o meu mastodonte
Já velho e cansado, viesse encalhar
Na boca da barra, e mesmo de fronte
Daquela janela virada pró mar