Saiu lá da favela pra entregar uma encomenda pra um filhinho de papai no asfalto
Não era traficante mas sua mãe tava doente precisava de grana no ato
Dezenove anos, já com dois filhos nas costas, a mulher morreu no parto do menor
Em troca do dinheiro para a compra dos remédios aceitou ir entregar o pó
No ônibus que ia para o bairro do barão na sua cabeça o filme da sua vida via
Não tava mais vendendo seus doces na passarela, pois o rapa agora já não permitia
Mas não desanimou e foi vender na sinaleira, pensava nos filhos pra se animar
Mas lá o dia inteiro tudo o que ele via era janela de carro se fechar
Sua mãe o ajudava, mas ela caiu doente, lavar roupa ela não pôde mais
E a vida a cada dia foi ficando mais difícil, o homem a necessidade é que faz
No lugar marcado pra entregar a mercadoria um carrão bacana encostou
Era o cliente lá da boca que chegava, “entre aí no fundo" ele falou
Outros dois estavam no carro com ele e disseram que o pó queriam ver
Lhe deram o dinheiro como fora combinado, só que não deixaram-no descer
Ele era novato, deixou que os caras cheirassem enquanto ainda estava ali
Agora os filhinhos de papai já viajando estavam querendo se exibir
“meu velho, cê agora vai ver com quem tá andando" e em frente ao módulo policial
Enquanto passavam bem devagar eles cheiravam “sabem que meu pai é senador, é federal!"
Desceu do carro numa rua escura e foi andando mas quando o carro do playboy sumiu
Uma viatura apareceu de repente: coronhada a cabo de fuzil
Jogaram-no na mala e o levaram pro areal, ali já sabia que ia morrer
Decide falar logo tudo aquilo que pensava e com ódio começou dizer
Vocês acham que matando pobre fazem justiça mas só enxergam o que querem ver
Os maiores marginais desse país são aqueles a quem vocês têm que obedecer
Parada (Vozes)
De raiva nenhum tiro eles dispararam
Foi espancado até morrer
Sei que você não gostou dessa história meu amigo
Mas nem tudo no Brasil é novela de TV