Tom: F
Introdução:
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Pacato cidadão, vindo da Paraíba, ou era Pernambuco, Ceará, não sei, só sei que
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é lá de riba, dezessete anos, dezessete irmãos, dez inda com vida.
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Saiu pelo Brasil, foi para São Paulo, levou quase nada, o que mais pesava era um
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montão de calos. pau pra toda obra, vontade de sobra em busca de trabalho.
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Aaai, minha mãe, é mais bonito do que 'ocê pensa.
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Aaai, meu pai, arranjei serviço aqui num edifício, abraço,tchau e “bença”.
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Primeiro salário, metade pra família. aí comprou ray-ban, calça de blue jeans
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Rádio de pilha, ainda sobrou uns troco de muita hora extra, ai que maravilha.
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Conheceu uma moça no ibirapuera, morena bonita, jeito de artista, flor de
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primavera, Aí então danou-se, ele apaixonou-se e namorou com ela.
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Aaai, minha mãe, é mais bonito do que 'ocê pensa.
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Aaai, meu pai, tô apaixonado, tô quase casado, abraço,tchau e “bença”.
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Largou do edifício, foi cavar metrô. tentou outras coisas, fez de tudo um pouco
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só não assaltou. quis que aquela moça casasse com um moço trabalhador.
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Tiveram dois meninos, Jeferson e Claiton. gêmeos berram juntos, gêmeos mamam juntos
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um em cada peito. Tudo engano dela, erro de tabela, agora não tem jeito.
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Aaai, minha mãe, é mais bonito do que 'ocê pensa.
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Aaai, meu pai, agora eu sou pai que nem 'cê é meu pai, abraço,tchau e “bença”.
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Mas veio o desemprego e com o passar do tempo, o sonho que era doce, acabou-se e a coisa foi
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ficando séria, ela então danou-se, desapaixonou-se, fugiu da miséria.
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A alma dele então, virou uma só ferida, pacato cidadão, mais um na multidão
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perdido e sem saída, vinte e sete anos, dez de desenganos nos becos da vida.
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Aaai, minha mãe, é mais doído do que 'ocê pensa.
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Aaai, meu pai, coração ferido, mais que arrependido, que saudade imensa.