Na tarde quente onde as velhas brancas cheiram a talco
sonham meninas com falsos reis e quebram o salto
pula sarjeta, pede gorjeta, um magro menino
toma uma coca e o padre toca outra vez o sino
a tarde segue, seguem turistas no mesmo passo
a rua corre, corre a cidade num só compasso
verte cerveja de alguma mesa, abre a sinaleira
e dorme um homem, de sono e fome, numa cadeira
um gordo sacode a pança, carregando uma criança
homens trabalham suados, rindo com olhos esbugalhados
e num suplício alguém faz comício e promete tudo
crê nas promessas e um velho bobo come um cascudo
sonham com fama, mijam na grama, fazem sucesso
roubam chicletes, novos pivetes, em seu progresso
um gordo sacode a pança, carregando uma criança
homens trabalham suados, rindo com olhos esbugalhados