Correu notícia de um gaúcho lá da estância do paredão
Tinha um cavalo tordilho negro foi mal domado ficou redomão
Este gaúcho dono do pingo desafiava qualquer peão
Dava o tordilho negro de presente pra quem montasse sem cair no chão
Eu fui criado na lida de campo não acredito em assombração
Fui na estância topar o desafio correu boato na população
foi num domingo clareava o dia puxei o pingo e o povo reuniu
Joguei os trastes no lombo do taura murchou a orelha tive um arrepio
Botei a ponta da bota no estribo algum gaiato por perto sorriu
Ainda disseram comigo eram oito que boleou a perna montou e caiu
Saltei no lombo e gritei pro povo este será o último desafio
Tordilho negro berrava na espora por vinte horas ninguém mais nos viu
Mais de uma légua o pingo corcoveou manchou de sangue a espora prateada
Anoiteceu o povo pelo campo procurava o morto pela invernada
Compraram vela fizeram o caixão a minha alma estava encomendada
A meia noite mais de mil pessoas desistiram da busca desacorçoadas
Dali a pouco ouviram o tropel olharam o campo noite enluarada
Eu vinha vindo no tordilho negro feliz saboreando a marcha troteada
Boleei a perna na frente do povo deixei as rédea arrastar no capim
Lavado em suor o tordilho negro ficou pastando ao redor de mim
Tinha uma prenda no meio do povo muito gaúcha eu falei assim
Venha provar a marcha do tordilho faça o favor e monte de selim
Andou no pingo mais de meia hora deu me uma rosa lá do seu jardim
Levei pra casa meu tordilho negro é mais uma história que chega no fim
FIM