Letra de
Ronda/Sampa

De noite, eu rondo a cidade,
a te procurar, sem encontrar
No meio de olhares, espio
em todos os bares, você não está.
Volto prá casa abatida,
desencantada da vida,
o sonho alegria me dá,
nele você está
Ah, se eu tivesse
quem bem me quisesse,
Desiste, esta busca é inútil,
eu não desistia.
Porém, com perfeita paciência,
sigo a te buscar, hei de encontrar,
bebendo com outras mulheres,
rolando um dadinho, jogando bilhar.
E nesse dia, então,
Cena de sangue num bar
da Avenida São João
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente
não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto o mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo, afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E os novos baianos te podem curtir numa boa
Cena de sangue num bar
da Avenida São João.