Dizem que um velho prometia
Fazer chover pelo sertão
Das mandingas que sabia
Reza canto e benzição
Caminhando entre os mandacarus
As mobílias da pobreza
Por cirandas de urubus
Sob o sol e a peleja
Cada raio queima uma esperança vil
Se é de Deus seja bem vindo
Mas quando a chuva molha o grão
Me perdoe meu senhor
A terra fica sorrindo
Os repentes que cantava
Parecia uma oração
A Iara a mãe d'água
Um suplício ao Deus trovão
Na gibeira um amuleto, um condão
Era um velho pergaminho
Parecia poetizar e rimava com amar
O que via no caminho
Ele ergueu pro céu seu terço de marfim
E aos brados ele rogava
De repente ecoou por todo aquele sertão
Uma grande trovoada
E choveu por treze dias
Treze noites sem parar
Inundado de alegria o povo vinha louvar
Lágrimas se misturavam ao temporal
E formavam uma enxurrada
A chuva encharcava o chão gado e o milharal
E as mãos tão calejadas
E molhava aquela esperança vil
Do verde que se sonhava
Que cobria a plantação lhe agradeço meu senhor
E o olhar de quem olhava
E o velho virou poeira
Ou será que se perdeu
Virou anjo ou estrela ele desapareceu
Muitos dizem que ele era o próprio Deus
Pela fé que ele pregava
Transmitia amor e paz um amar, amar, amar
Por onde ele passava
Talvez fosse fruto da imaginação
Desse povo tão sofrido
Que se agarra aos seus santos
Pra ludibriar os prantos
Se mantendo sempre vivo
Onde o velho fez a última oração
Construíram uma capela
No altar seu pergaminho com suas manuscrições
Alimentam essa quimera