Na beira do Rio da Morte / fiz meu rancho de barrote,
Os parentes me criticam / que fui morar na biboca.
Dizendo que fui pra lá / pra dar sangue as muriçoca,
Eu levo a vida pescando / Não me importo com fofoca.
Onde encontra as duas água / o Rio da Garça desemboca,
Lá eu tenho meu severo / com raizadas de mandioca.
Deixo aquilo curti n'água / peixe grande sai da loca,
Jacaré e Sucuri / Notícia que não me toca.
Tenho minha carabina / que é de origem marroca,
A ferragem importada / a coronha é carioca.
Quando eu aperto o gatilho / que já estora pipoca,
Onde bate estanho quente / Faz buraco que nem broca.
Na minha tralha de pesca / nem minha mulher não toca,
Avaré Cana-do-Reino / Eu não pesco com taboca.
Quando eu fisgo um peixe grande / que até a vara embodoca,
Eu uso linha de náilon / porquê a de aço faz groca.
Esta vida aqui do mato / a coisa que não me invoca,
Eu só pego na enxada / quando vou arrancar minhoca.
Porque o clima da cidade / francamente me sufoca,
A vida que eu levo agora / Eu não quero nada em troca.