Meu medo é o campo que já não floresce
Uma semente que já não germina
É uma vertente de que não se bebe
É o que se atreve a nos passar por cima
Meu medo é o medo do animal aflito
Quando a rapina lhe ameaça a cria
É um entre verde, um verso em rima pobre
Comprometendo os rumos da poesia
Meu medo é a mata que foi derrubada
É uma criança que não foi parida
É a primavera que não tem mais flor
É o rio que corre sem levar a vida
Meu medo é o medo da figueira grande
Quando o machado lhe ameaça a queda
É um entre verde, um templo sem poesia
Nas melodias de quem não se entrega
Meu medo é o moço que já não escuta
É o que falece a geração dos meus
Meu medo é o medo dos que já não comem
Meu medo é o homem que esqueceu de Deus
Meu medo é o homem
Que esqueceu de Deus