Noite de inverno, perdi o sono, pulei cedo fui
Pro galpão matear um pouco, ainda escuro
O fogo morto reacendi de prontidão
Mal fumaceava o velho angico, cerne puro
O douradilho, pingo bueno, crina grande,
Deu um relincho que ecoou na estrabaria
Como querendo me dizer: buenas, parceiro
Que estava pronto pra lida de mais um dia
Nas horas ternas quando o mate é companhia
Os olhos pesam na direção do porongo
A pampa dorme, mateio muy pensativo
E o amanhecer parece mesmo muito longo
Mas, num repente, meu velho me dá “bom dia!”
Lhe peço benção, puxo um banco e um pelego
Lá vai um mate novinho, recém cevado
Sorva com calma, pois tá bom esse aconchego
(Mas, se quiser saber da vida, meu parceiro,
Da experiência e da ilusão, que vem e vai
É nessa hora, frente a frente, que um campeiro
Abraça o filho com orgulho de ser pai
Mas, se quiser saber da vida, meu parceiro,
Da experiência e da ilusão, que vem e vai
É nessa hora, frente a frente, que um campeiro
Abraça o filho com orgulho de ser pai)
Na prosa mansa eu contemplo as cicatrizes
Que o tempo maula no seu rosto desenhou
E, bem disposto, ele me fala das tropeadas
E das jornadas que sempre desempenhou
É lindo ver como se sente quando eu falo
De tantas coisas que não sei e lhe pergunto
Sua experiência, enquanto a cuia vai e volta,
Se vem à tona, descrevendo cada assunto
Essa é a vida de um campeiro de outras eras
Que está sentado em minha frente nessa hora
E ele, por vezes, fica até se repetindo
Remoe saudade da tropa que foi-se embora
Já não lhe resta, a não ser velhas lembranças
De todo tempo que viveu meio a trompaço
Trançando bem, até faz relho e alguma
Corda pois é dos poucos que ainda emenda um laço
Abraça o filho com orgulho de ser pai
Abraça o filho com orgulho de ser pai