No tempo da roça meu pai dizia
Que o tempo era outro, eu não sabia
O tempo passava, o tempo corria
E ele ali, e ele ali
Quiçamba de milho e de café
Na algibeira histórias, crença, fé
Se não selava cavalo, léguas a pé
Ponta Grossa ele subia
Clarão de lua, com sua flautinha
Soprava no tempo as notas baixinhas
Mas nunca esquecia seu Rei e Rainha
Zequinha e Santinha, meus avós
Meu pai me dizia que quando moço
Cavaleiro dançante, cavalo, colosso
Trilhava os caminhos, dos bailes sabia
Chapéu em voga, e lá ele ia
Cortando os céus
E clareando as estradas
Relampejando
O raio lumiava
É tanto mato
Capim, angola
E uma estrada
Esburacada
Depois do mata-burro
Atravessamos uma porteira
E logo mais à frente
Havia outra porteira
Na luz dos relampejos
Seguimos pela trilha
E os bois nos espiando
Vem correndo minha filha
Pra todo lado
Piscavam pirilampos
Iluminavam
Nossos caminhos
E lá com a gente
Estava Chiquinha
A mais miudinha
Não parava de falar
E lá chegamos
À casa de Maria
Fomos rezar
Buscando a luz
E sempre ao lado
O violão
Cantando versos
Para Jesus
E pra nossa surpresa
O chão tinha mais brilho
Que o brilho das estrelas