A três pinhos ressongando
Nesta milonga ponteada
E a noite outonal tranqueando
Reponta a voz afinada
O som de bordões e primas
Que se arranchou no galpão
Quarteia acordes e rimas
No parto de uma canção
Notas dolentes e graves
Vão se aninhando com calma
Em acalantos suaves
Plantando a paz dentro d'alma
Os duendes das labaredas
Com seu encanto e magia
Desnudam os véus e cedas
Ao desposar a poesia
Milonga de mil colores
Que aquece e clareia as noites
Vem abrandar minhas dores
E me livrar dos açoites
Milonga de mil matizes
Que empresta a beleza as flores
Vem fechar minhas cicatrizes
E me arrancar dos rancores
Há sons de rios e cascatas
Amadrinhando os enredos
E as cordas solam cordadas
Sob o comando dos dedos
Enquanto a noite desliza
Pontilhada de luzeiros
A luz do canto eterniza
O lume de seus candeeiros
E quando a barra do dia
Espreguiça seus albores
Desfaz-se o dom de magia
Descortinando os labores
É a vez de encarar a lida
Que também tem seus encantos
Pra os que enfrentam a vida
Sem queixas mágoas e prantos
(refrão)