Partiu na madrugada, Sem se deixar fazer canção. De mão aberta se fez à estrada, Traçando sonhos pelo chão. "Nesta cidade faz sempre frio" Disse o taxista que a apanhou, Sem reparar no olhar vazio E no corpo que o habitou. Da janela vê-se Um lugar bem melhor. Esta casa, "Tenho que parar"- pensou, E tentou não dormir. Porque tudo o que queres É alguém para amar. Uma sombra, Um chão devagar. E tudo o que tens É um nada a perder. Um segredo, Mais uma noite a vencer. O silêncio louco da cidade Apanhou-a desprevenida. Entrou num bar em tons de roxo E no azul de uma bebida. Atravessou o rio Uma última vez, Pela ponte inexistente. Foi encontrada junto ao cais, Vestindo uma nudez diferente. Agora já tens tempo Para rir das estrelas, Como gostavas Era a tua voz no ecrã. Uma bandeira,Uma maneira De beijares a manhã. Porque tudo o que queres É alguém para amar. Uma sombra, Um chão devagar. E tudo o que tens É um nada a perder. Um segredo, Mais uma noite a vencer.