No Cabo de Guardafui vou aguardando bons ventos
Tiro a pena da mochila e assento meus pensamentos
Às voltas com seu fadário um simples soldado raso
Tomai lá meu secretário e guardai bem este meu caso
Só me deu p'ra dizer não em tempo de dizer sim
Também na mesma moeda o mundo me paga a mim
Como este cabo tão triste pedregoso e sem verdura
Assim minha vida existe marcada pela desventura
Pergunto à musa por quê pergunto aos deuses nos céus
Todos me dizem que é só má fortuna e erros meus
Se baixo o amor à taberna e depois o subo em soneto
Ele arde em mim com dois lumes um é branco e outro é preto
Assim ando estrada fora como um bardo vagabundo
Desisti de ver a hora de ficar de bem com o mundo
No Cabo de Guardafui guardei os meus pensamentos
Ponho a mochila às costas pois já sopram melhores ventos
Como esse cabo que existe à tristeza condenado
Também a má fortuna insiste em andar sempre a meu lado
Pergunto à musa por quê pergunto a vós que me ouvis
Também achais que um poeta só é bom quando infeliz?