Sou filha de um ogum feroz
Sou dente, carne, imensa voz
Sou de sair de madrugada
Sou de alumínio, mas sou jangada
Sou bem tratada pelas águas, pelos rios que cruzo
E os maremotos, as enchentes, a Yemanja me curvo
Sou a corrente intransponivel, sou possível ilha
Sou mera coincidência entre os 7 mares
Sou a memoria desse barco que partiu
Sou turmalina, sou de prece
Sou ametista, a flor do agreste
Sou pequenina, sou divina
Sou o martírio, sou a mulher
Que não se esquece, que não se despe
Que o sol aquece, que tudo tece
Sou labareda que incendeia, o sangue quente pulsa
Sou a novena interrompida, pêlos arrepios
Sou a cartilha indecorosa, sou intensamente
Sou a medida errada entre a cruz e a espada
Sou a menina nesse corpo que escolhi
Que não se esquece, que não se despe, que o sol aquece., que tudo tece
Que traz a peste, que faz a prece, que guarda a veste, que se enobrece
Sou de alumínio, mas sou jangada