O dia acorda o sul do continente
E o corpo pressente e o frio da coxilha
A cuia descansa com erva lavada
Foi-se a madrugada É hora da encilha
Meu ruano relincha no peso do basto
Batendo os cascos no lombo da estrada
A lida começa, pra quem vive dela e
Depois da cancela, o poncho é minha morada
(As nuvens enfeitam o azul do céu
Sombreando o chapéu de abas pra cima
E águas do açude espelham grandeza
Nos dando a beleza de uma obra prima
Assim eu sustento minha estampa serrana
A vida aragana e as coisas que trago
Me basta o rancho uma china e um cavalo
O resto é regalo Churrasco e mate amargo!)
Relinchos de potro pelo descampado
No chão esverdeado de trevo e capim
Sinuelando a tropa nos campos da serra
Algum touro berra em tons de clarim
Esse é o Rio Grande que trago comigo
No sistema antigo que herdei dos avós
A vida moderna pouco me afronta
E de pé me encontra nestes cafundós
Na costa do mato de sombra comprida
Uma cruz esquecida aos olhos dos seus
Murmúrios de sanga e da vida selvagem
Sonorizam a imagem pintada por Deus
Um bando de gralhas enterra pinhões
Como guardiões destes pinherais
Replantam esperança pra sua espécie
Também fortalecem a vida dos demais