De beleza inculta a puta flor do meu verso
a puta flor tão bruta flor como o desejo
quer ver verter nos cantos todos do universo
numa cordissonante alegria fevereira
bruta cadência de prosódia batucada
quero-te língua achar teu beijo em meu beijo
quero sentir a mais o sim do som do samba
a impura ganga da ginga, a gana, o molejo
a toda prova no arrastado da sandália
quero-te língua ouvir teu brado retumbante
de agogôs, tantãs, atabaques e pandeiros
quero sentir a expansão do são, tua delícia
o esplendor e a dor de tua face verdadeira
coincidir loucura e sonho em cada minúcia
da não-gramática de eternas dissonâncias
da fala crua das ruas, juventudes e violas
quero o nonsense dos requebros das mulatas
erram os outros, sonâmbulos, tão estetas
o passo, o lance, o dado, a conta, a cor da roupa
passam ao largo do são, caretas, caretas
de tua trama, tua transa, teu transe multicor
linda bacante, bacana, sacana língua,
última filha do Lácio, lasciva flor