Eu choro constantemente
O choro de muita gente.
Eu choro comovidamente
O choro do desnutrido,
Do produtor falido,
Do moleque moribundo,
Do infeliz vagabundo.
Eu choro.
Eu choro essa desgraça
Que não passa,
Que macula o meu país.
Eu choro esse choro triste
Desse meu povo infeliz.
Eu choro.
Eu choro constantemente
O choro de muita gente.
Eu choro o choro infantil,
A sua chacina,
Eu choro a mão assassina
Matando pra matar a fome.
Eu choro o menosprezo
Do homem pelo próprio homem.
Eu choro.
Eu choro constantemente
O choro de muita gente.
Eu choro o choro do morro
Dona marta, outros mais.
Eu choro a existência
Dos funcionários marajás,
Dos fantasmas, dos corruptos,
Criminosos legais
Que nos tratam com ironia,
Sugando-nos a paz,
A nossa precária alegria,
A nossa modesta esperança,
O nosso pão de cada dia.
Eu choro o meu próprio choro.
Eu choro constantemente
O choro de muita gente.