Era um caminho quase sem pegadas
Onde tantas madrugadas folhas serenaram
Era uma estrada muitas curvas tortas
Quantas passagens e portas ali se ocultaram
Era uma linha sem começo e fim
E as flores desse jardim meus avós plantaram
Era uma voz, um vento, um sussurro
Relampo, trovão e murro nos que se lembraram
Uma palavra quase sem sentido
Um tapa no pé do ouvido todos escutaram
Um grito mudo perguntando aonde
Nossa lembrança se esconde meus avós gritaram
Era uma dança quase uma miragem
Cada gesto uma imagem dos que se encantaram
Um movimento um traquejo forte
Traçado, risco e recorte se descortinaram
Uma semente no meio da poeira
Chã da lavoura primeira meus avós dançaram
Uma pancada um ronco, um estralo
Um trupé e um cavalo guerreiros brincaram
Quase uma queda quase uma descida
Uma seta remetida as mãos se apertaram
Era uma festa chegada e partida
Saudações e despedidas meus avós choraram
Onde estará aquele passo tonto
E as armas para o confronto onde se ocultaram
E o lampejo da luz estupenda
Que atravessou a fenda e tantos enxergaram
Ah! se eu pudesse só por um segundo
Rever os portões do mundo que os avós criaram