Sou peregrino na estrada
Eu quero à vida voltar
Cicatrizando os caminhos
Renascer e plantar
Sou peregrino na noite
Meu luar não se foi
Muitos manos ficaram, nem tudo se foi
E ficaram guardados atrás da porta
Meu fifó, meu cofo e a carabina
Minha sina de ser um filho da terra
E viver pelo mundo que não é meu
Ó Minas
Mira bem para o resto da estrada de ferro
Quantos braços cravaram tantos dormentes
Para ouvir o trem na curva apitar
E apitou e até nunca mais
Carcará cantando na estrada asfaltada
São os traços das eras chegadas pra quem duvidou
Urubus no céu, no canto alguns tabaréus
Resto de amor e respeito - eu tiro o chapéu
Arde ao sol de janeiro, planícies, montanhas
Coivaras acesas de pés de umburanas
Chapadas queimadas, pé-duros malhando nos licurizais
Trilham meus pés catingueiros ardentes estradas
Revejo algarobas, juremas queimadas
Tropéis de saudades, sertões, sertões, calumbis, gravatás!
Vasta serrania cinzenta
Vai, pensamento, sonha
Abre as porteiras da terra
Vai, pensamento, corta esse céu
Leva o amor e traz a poesia para o meu cancioneiro
Fico na estrada pisando a lembrança de tanta vivência
Sentindo a ausência dos meus companheiros
Que em tempos passados, pisaram na estrada e até nunca mais