Amor, escrevi esta carta sincera
Virei noites à sua espera
Por te querer quase enlouqueci
Pintei o rosto de saudade e andei por aí
Segui seu olhar numa luz tão linda
Conduziu meu corpo, ainda
O coração é passageiro do talvez
Alegoria ironizando a lucidez
Senti lirismo, estado de graça
Eu fico assim quando você passa
A avenida ganha cor, perfuma o desejo
Sozinho te ouço se ao longe te vejo
Te procurei nos compassos e pude
Aos pés da cruz agradecer à saúde
Choram cordas da nostalgia
Pra eternidade, um samba nascia
Choram cordas da nostalgia
Pra eternidade, um samba nascia
Não perdi a fé, preciso te rever
Fui ao terreiro, clamei: obaluaê!
Se afastou o mal que nos separou
Já posso sonhar nas bênçãos do tambor
Amanheceu! num instante já
Os raios de sol foram testemunhar
No desembarque do afeto vindouro
Acordes virão da viradouro
Tirei a máscara no clima envolvente
Encostei os lábios suavemente
E te beijei na alegria sem fim
Carnaval, te amo, na vida és tudo pra mim
Assinado: um pierrot apaixonado
Que além do infinito o amor se renove
Rio de janeiro, 5 de março de 1919