O som da rodovia ecoa grave, longe
E constante
É quase um mar
Faz-se de mar
Um horizonte construído de exageros
Redundâncias
Uma exuberância oca, sem aviso
A penetrar no seu vestido
Sem piedade
Se transmuta em beijos secos de um marido
Que já não reconhece mais
E a cidade invade seus cadernos
Segue rasurando seus desenhos
E manchando seu papéis
E a cidade arromba o apartamento
Põe seus olhos turvos em vigília
Pesa e a impede de dormir
Tanta ansiedade enche os cinzeiros
Verga os ombros
O que aconteceu?
Como aconteceu?
Sim, as palavras dele são paredes
Que constróem este apartamento
Cada dia a encolher
Não, quebra essa janela
Estoura a porta
Solidão é só palavra morta
Essa dor não pode te prender
"Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos