É engraçado
Pensar que do outro lado da cidade em algum prédio
Também tem alguém com tédio
E seu remédio
Pode estar no som
Que vem do violão
Se a capital
Talvez por um descuido voltasse a ser rural
E o assaltante da esquina fosse um cara legal
Eu juro que daria um jeito de lhe tirar daí
É irreal
Pensar que num passado o futuro era legal
Em pensar que o mundo todo usaria um só canal
Mas já não sabem mais
Como falar com os olhos
Como ouvir com as mãos
Como voar com abraços
Como fazer canção
Voar faz parte de quem vive engarrafado
Falar sozinho não tem nada errado
Tá do meu lado e não aperta a minha mão
Mas tá online vendo um vídeo do Japão
Sorrir na foto é coisa mais clichê
Quero ver sua alegria
Ao vivo, em HD
Um cheiro no cangote
Um beijo, um cafuné
Nenhuma outra resolução
Supera a mão na mão
Não sei por que
Ainda insisto na bobagem de dizer:“Bom dia!”
Pode ser que um dia alguém responda e eu nem saiba agir
Parece sonho ouvir meu pai contando que fazia serenatas em janelas
Pelo bairro
Mas como eu faço pro som do violão chegar
No 5º andar
Sem o porteiro interfonar
Sem o vizinho reclamar
Sem a polícia me levar
Seja outro cara se sentindo entediado
Quem sabe ele me escute e me chame pra beber
Sem preocupar com o celular, nem com você
Saudade que me dá de receber um telegrama
Que não seja o banco me cobrando a mesma conta
O mundo amarrado em ondas que nem dá pra ver
Quero não estar aqui
Quando o papel sumir