Setenta e pico era o ano Ia o verão na "Coronilha" Lidando bois e tropilha Nas ressolanas mais quentes Latiram cuscos na frente Era o Jacinto a cavalo De tiro ao mesmo embalo Um lindo baio orelhano Cambiado c'um paysano E batizado "Regalo" Assim se achegou na estância Criollo com todo viço Porte bueno pro serviço Bem garboso e de entono "Mas este aqui já tem dono" - Disse o Jacinto na lata - Pois cansei da vida ingrata De pegar ainda potros E fazer pingos pros outros Por umas miseras platas Foi assim que o mulato Partindo deste princípio E conhecedor do ofício Manheiro de todos atalhos Deu início nos trabalhos Sem medo com calma e jeito Impôs tranqüilo o respeito, Num sol de manhã enfrenou De resto no tempo forjou Um "cavallazo" a preceito De dar gosto pro serviço Na mangueira ou campo afora Sem cutucar na espora Pechava um boi se preciso Orelhas alertas de aviso Manso e doce de freio Nas lidas do pastoreio Ao encurtar o espaço Pro campeiro atirar o laço Num aparte ou num rodeio. Tropeando por corredores Levando a vida num upa, Muita china na garupa Em fins de bailes e andanças Sempre pronto e das confianças Atento a qualquer perigo E por isso mesmo lhes digo Que muito mais que um cavalo Jacinto fez de "Regalo" Mais que um parceiro um amigo.