Hoje moro na cidade longe da vida roceira/
Aqui eu sinto saudade da estrada boiadeira
Quando passava a boiada via levantar poeira
Fui rever a minha terra, não fui mais de jardineira
Quando lá eu fui chegando, por todos lados olhando
No alto não vi cantando a ciriema campeira.
Lá no rio de águas claras tão cheias de caracol
Só não vi minha canoa onde eu pesquei de anzol
Um bando de garça branca que parecia lençol
O varjão cheio de arroz amarelando no sol
Já se faz trinta janeiros que acabaram meus parceiros
Com eles lá no terreiro eu jogava futebol.
Não vi o carro de boi, nem a estradinha empoeirada
A porteira lá do alto está num canto encostada.
A casinha que eu nasci a tempo foi derrubada
Só quatro esteio de pé lá no meio da invernada
Foi ali que comecei, por todos cantos andei
Eu confesso que chorei lembrando a vida passada.
Eu não vi mais a colônia, nem a casinha amarela
O casarão da fazenda com as moças na janela/
O terreiro de café e os cavalos bons de cela/
O povo todo reunido na festa da currutela
Ao chegar o fim do dia, o sino que ali batia
A procissão que saia lá de dentro da capela.
Meus pais não existem mais, de lá mudou meu irmão
Os amigos bem velhinhos já não tem mais ilusão
O meu rosto já enrugado, cabelo igual algodão
Nesse mundo tudo passa ninguém vai dizer que não
No dia em que eu for embora a minha viola chora
Vocês guardem na memória pra eterna recordação.