Não se ouve o som das ruas nuas
Nem dos pinhões em seu mercado de metal
Estamos mudos como a estátua de Iracema
Pela ausência do esperado carnaval
Sem luxo ficou a minha aldeia
Não Benfica a Mocinha sem brincar
Com Teresa e Jorge na esquina
Sem as rimas de um bloquinho a desfilar
Sem as chamas nas velas, Mucuripe
O Bode Beat passa um ano em jejum
Quarta de cinzas se repete o ano inteiro
Não mais queima aquele sol pra cada um
Do chão da Praça não se escuta o rugido
Chão ungido com a bebida que se esvai
A folia no meu peito não se aguenta
Se concentra, concentra, mas não sai
Tomaram do meu bloco o prazer
De rever a Gentilândia em seu pulsar
Farol velho e o novo são meus olhos
Marejados com o sal da Beira-mar
O profeta Ednardo já dizia
“A calmaria na cidade é geral”
Em carência vou vivendo os quatro dias
Implorando “não me roube o carnaval”
Em ausência vou sofrendo os quatro dias
Por favor, me devolvam o carnaval