Jorge Sofrido foi peão
Da estância da paz perdida
Filho do Nego Machado
Neto da escrava Bonita
Nasceu preto feito a noite
Sem lua no céu de abril
Mesma noite mesma hora
Que sua maezinha partiu
Criado guaxo com a peonada
Entre a eguada caborteira
E pealando a terneirada
Junto a goela da porteira
Jorge Sofrido foi peão
Da estância da paz perdida
Filho do Nego Machado
Neto da escrava Bonita
Tinha algo de tapera em sua voz
Que quase nunca se ouvia
Nos olhos da Chica Mulata
Achou sentido pra vida
Ergueu um rancho no posto
No fundo da Paz perdida
Um dia Jorge casou
No outro Chica adoeceu
No terceiro perdeu a fé
No quarto dia, morreu
Filho das dores do mundo
Sorfrido das alpargatas
Manco da égua tordia
Viúvo da Chica Mulata
Sofrido, pobre destino
Que tanto cruzou na estrada
Ficou arrastando alpargata
E rengo de uma rodada
Nunca mais calçou esporas
Ficou velho junto a estância
Fazendo bóia pra cuscada
E remoendo suas ânsias
Filho das dores do mundo
Sorfrido das alpargatas
Manco da égua tordia
Viúvo da Chica Mulata
Jorge Sofrido foi peão.