Ao modo de aves cruzando as alturas Milhares de peixes vermelhos e azuis Na cega certeza de algum que conduz Percorrem distâncias nas águas escuras Mas no oceano tem mais criaturas Que esperam famintas pra lhes devorar E aqueles que escapam vão ter de esbarrar Que nem peregrinos exaustos de sede Nos braços dos homens que arrastam a rede Cantando ciranda na beira do mar Cantando ciranda Na beira do mar Pegando carona nas grossas correntes Se vão tartarugas de cascos brilhantes Que embarcam no rumo de praias distantes Que servem de berço pra seus descendentes Que rasgam os ovos e emergem valentes E correm sozinhas para se salvar Mas só uma ou outra consegue chegar Nas águas salgadas que impedem o abraço Das garras das aves de bico de aço Que cantam ciranda na beira do mar Coqueiros parecem vigias felizes Que zombam do tempo que engole os humanos E assim passam dias e meses e anos Não cedem, não cansam, não tem cicatrizes Mas o tempo aponta pra suas raízes As águas começam a se aproximar Roendo as entranhas pra lhes derrubar Que nem condenados, pendendo, penosos Nos braços dos ventos morrendo orgulhosos Cantando ciranda na beira do mar Com olhos de vidro de cores berrantes Balançam edifícios de quarenta andares Que olhados de longe se parecem altares Do culto esquecido de uns deuses gigantes Que rompem os tempos dizendo arrogantes Que os ventos libertos não podem passar E atrás das colunas que agarram o ar Uns tantos se espremem sentindo os mormaços Nas sombras de uns poucos que miram os espaços Cantando ciranda na beira do mar Eu vivo pisando nas mesmas areias Que o mar passa os dedos e acaricia Nas noites de lua com brisa macia Escuto o chamado das mesmas sereias Me sento nas pedras que nas marés cheias As água procuram pra se arremessar Que nem combatentes que vem guerrear Sem ter esperança de fama ou de glória Se acabam em espuma, se apagam da história Cantando ciranda na beira do mar